domingo, 11 de outubro de 2015

Uma semana atrás, estava em casa, curtindo uma preguiça de um dia de domingo comum, lavando a louça do almoço, e recebi um telefonema; meu padrinho de batismo havia falecido.

Fiquei ali parada, catatônica por uns minutos, pensando em como era possível. Como alguém morre assim, de repente? Como um coração simplesmente para de bater e nunca mais podemos ver uma pessoa querida?

Comecei a olhar pro passado, relembrando os momentos com meu tio. Nosso último encontro havia sido há uns dois meses. Pensei em como ele costumava ser sisudo, endurecido pelo tempo, mas como era doce com meu filho. Como tratava meu filho como se fosse neto dele, como parecia mais jovem e mais alegre quando brincava com meu gurizinho. Eu nunca disse, mas valorizava muito esse afeto que ele demonstrava. Esse carinho me emocionava. E é disso que quero lembrar.

Algumas lembranças de que guardei vieram à mente, do tempo que eu era criança. Lembro que meu padrinho passou por algumas fases complicadas, lembro que ele bebia e perdia o controle...  e numa dessas ocasiões ele veio se desculpar comigo, eu tinha uns 8 anos. Ele, tão orgulhoso, se desculpando com uma criança, eu entendia como um gesto sincero de alguém que se importava. Sempre que pisava na bola, ele se desculpava comigo. Sempre.

Guardo muitas lembranças... e todas são boas. Mesmo as tristes deixaram lições; mesmo quando me desapontou, o que eu guardo é a atitude dele me pedindo perdão. Lamento que tenha partido tão cedo, 67 anos pra mim é cedo. É triste ver alguém partir pra poder parar e relembrar momentos esquecidos pela correria do dia-a-dia.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sonho

Se existe uma janela pro passado, nos meus sonhos eu posso ver através dela.

Essa noite tive um sonho que foi como estar lá - na casa da minha vó, brincando no pátio esperando ela chamar pra tomar café. Eu a vi, vi os meus tios também, matei a saudade, lavei a alma com muitas lágrimas, pois eu estava lá, mas era eu AGORA, o "eu" do presente. E foi como se eu tivesse viajado no tempo.

Gosto desse tipo de sonho porque me transporta e eu lembro tão nitidamente de tudo que me sinto lá mesmo.

Que saudade.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Uma perda

Quando perdemos alguém querido para a morte, são sempre os bons momentos com tal pessoa que vêm à mente. Pelo menos comigo é assim. Sai qualquer sentimento negativo, qualquer pouca coisa, e ficam as lembranças boas. A saudade. Essa cruel.

Foi o que aconteceu quando soube que minha tia Maria da Graça havia morrido, ontem. Imediatamente lembrei de todos os bons momentos que vivemos, há tanto tempo. Ah, o tempo... esse também sabe ser cruel.

Lembro dos almoços de domingo com a família reunida, nhoque, cerveja, música. Gente rindo, gente falando bobagem, gente dançando. Sendo feliz. Ela, toda linda, feliz, sorridente, animada. Jovial. Olhando pra trás, vejo como tudo pode mudar radicalmente em pouco tempo; pessoas mudam, vão embora, perdemos contato, perdemos o hábito de nos reunir, deixamos pra depois e tudo vira lembrança. Queria ter aproveitado mais momentos como esses, gostaria de ter valorizado mais aquelas festas de domingo que pareciam tão banais, tão sem importância. Hoje vejo que foram momentos únicos e muito felizes.

Em poucos anos tudo mudou.

A vida não foi fácil pra ela, de fato. Todos temos nossas cruzes. Alguns sofrem mais, alguns suportam melhor, alguns não são tão fortes. Cada um sabe dos seus limites; não a julgo nem a culpo por ter desistido de lutar, perdido a vontade de viver. Como eu disse, a vida lhe dera muitas rasteiras e algumas delas foram insuperáveis. E tristeza mata.

Tristeza mata de um jeito ou de outro. Quando a mente vai mal, o corpo paga. Neste caso, pagou o preço mais alto; a vida.

Nos últimos anos, perdi muitas pessoas queridas. Algumas das mais queridas da minha vida, personagens de uma época maravilhosa que já se foi. No entanto, alguns ficaram. E pra esses quero dar muito afeto, antes que se vão. às vezes precisamos perder alguém pra lembrar de dar valor a quem está por perto.